No Brasil centenas de famílias estrangeiras originárias de diversos países como: Líbia, “República Tcheca”, Japão, Síria, Argentina, Itália, Holanda, Alemanha, Iugoslávia, Polônia, Portugal, Irlanda desciam nas plataformas ferroviárias a partir de 1889. A Cia Mogiana de Estradas de Ferro trouxe muitos desses imigrantes para o Triângulo Mineiro.
Jácomo Pavanelli e Isabel Lopes desembarcaram em Ribeirão Preto, a fim de prosperarem com o cultivo de café. Ele, italiano de Veneza, chegara ao Brasil com apenas nove anos e se tornaria construtor e comerciante. Ela, espanhola e extremosa dona de casa; se conheceram em Ribeirão Preto, onde se casaram; tiveram dez filhos dos quais sobreviveram apenas cinco: Aracy, Arnaldo, Aldari, Amália (Nenzinha), e Antônio.
Jácomo veio a Sacramento ajudar nas construções locais (Matriz, Arquivo público - “antiga cadeia”) onde se estabeleceu e formou sua família. Aracy nasceu em Sacramento em 16 de agosto de 1919, num período de profundas incertezas, logo após o final da Primeira Guerra Mundial e de um surto de Gripe Espanhola. Porém Aracy seria uma criança saudável que logo seria encaminhada ao Grupo Escolar Dr. Afonso Pena Júnior, do qual seu pai havia sido o construtor em 1922. Ela terminaria o curso primário no início dos anos 30, quando se mudou para Uberaba, a fim de estudar no Colégio Interno Nossa Senhora das Dores, dirigido pelas Irmãs Religiosas da Ordem Dominicana. Em Uberaba também se prepara para exercer o Magistério. Muito cedo manifestou vocação para as ciências exatas demonstrando interesse pela matemática e ciências, disciplinas das quais se tornaria professora. Em 1940 começa sua vida profissional na primeira Escola Normal de Sacramento, como auxiliar de Maria Crema Marzola; mais tarde desempenha a função de ministrar as aulas de matemática para o curso ginasial e no ensino médio.
Em 1953 assume a direção da Escola Normal em substituição a Maria Crema Marzola que se muda para Uberaba. Tivera namorado em Uberaba e tornou – se noiva de um rapaz de Macaé; porém soube entender a sua vocação para o magistério e para a doação pela comunidade (católica fervorosa e agente pastoral das filhas de Maria), e a família, sobretudo aos sobrinhos, Elvani e Ernani, Patrícia, Luiz Antônio e Carlos Eduardo.
Depois de um conturbado jogo político partidarista, Aracy se impôs pela força moral, pelo espírito de liderança e sobretudo pela confiança da comunidade na sua capacidade e dedicação inconteste à educação. A Escola passa a denominar – se “Colégio Estadual Cel. José Afonso de Almeida” por força da legislação que finalmente define o papel da principal escola de Sacramento; onde se formaria uma verdadeira elite cultural. Administrada com brilho por Aracy, e tendo 2.500 alunos matriculados, a escola também se viu forçada a construir novas salas de aula para abrigar o Ginásio Comercial, Curso Cientifico, Magistério e Escola Primária anexa.
Em 1970, a diretora consegue a designação para o afastamento da professora Célia Maria Almeida, da cadeira de História, a fim de servir como vice-diretora. Cumpre acrescentar o nome de Amália Pavanelli Araújo, sua irmã, como fiel colaboradora na administração escolar como secretária nesse período.
Aracy valorizava o esporte, a arte e as iniciativas libertárias inclusive acompanhando excursões educativas e de lazer a outras cidades. Ela também revitalizou a Fanfarra Escolar e formou uma Banda Marcial, requisitadas nos desfiles e comemorações que marcaram os anos 70, no ufanismo proposto pelo governo militar que tinha seus fiéis seguidores pelos rincões interioranos. “A Fanfarra era convidada para se apresentar em diversas cidades como Araxá, Santa Rita de Cássia, Franca e Uberaba.” Com fundos financeiros arrecadados em festas promocionais Aracy constrói uma quadra de esportes.
Em 1975 Aracy deixa a direção da Escola Estadual Cel. José Afonso de Almeida, depois de mais de trinta anos de dedicação integral como professora e diretora. Ao invés de se recolher ao descanso merecido inicia um novo trabalho, dirigindo a Escola Municipal de Comércio denominada Maria Crema em homenagem à sua ex – companheira de magistério. Está foi mais uma etapa significativa para a história da educação em Sacramento, desempenhando um importante papel no ensino profissionalizante. Novos cursos seriam criados e mais uma opção era oferecida aos jovens que terminavam o primeiro grau. Inicialmente a escola funcionou na Casa da Cultura Sérgio Pacheco (1975), depois foi transferida para um prédio especialmente construído na Praça Edalides Millan de Rezende. Essa escola ainda mudaria de lugar. Aracy permaneceu dirigindo com energia a escola Maria Crema até 1983, quando deixou definitivamente o magistério compelida pela saúde abalada por um câncer de mama.
Mesmo no refúgio do lar Aracy ainda interagia com o trabalho comunitário; por muitos anos havia se dedicado à assistência de crianças na creche “Rosa da Mata”. Adoece seriamente depois de submeter – se a cirurgia de mastectomia com idas e vindas ao hospital Hélio Angotti, em Uberaba.
Já tendo a saúde debilitada em decorrência de uma isquemia cerebral, Aracy Lopes Pavanelli faleceu no dia 22 de junho de 1990, na Santa Casa de Sacramento. Para Elvani “No ato fúnebre, o sr. Claret Scalon (Polaco) na época, mestre da fanfarra, tocou em sua homenagem a música preferida “A Noite do meu Bem” composição de Dolores Duran, cantada por Dº Eleusa. “Tia Ciça” deixou um exemplo de mulher, valores, liderança, dedicação, integridade, moral e ética; ela procurava sempre transmitir isso para a educação.”
É com profunda satisfação que a Secretaria Municipal de Cultura de Sacramento, através do setor de Patrimônio, homenageia Aracy Pavanelli com sua biografia no projeto “Gente que Educa: História de Quem Faz da Educação um Lema de Vida”.
Referência:
CERCHI, Carlos Alberto. Aracy Lopes Pavanelli. Destaque IN, Sacramento (MG), n°54, p. 08-10, 2003.
Subsídios fornecidos por Elvani Oliveira Pavanelli, em entrevista concedida a Ana Maria Florentino Batista
Fonte
Secretário de Cultura: Luiz Carlos Souza Júnior / Texto: Ana Maria Florentino Batista / Revisão: Dimas da Cruz Oliveira / Responsável Técnica: Eliana Garcia Vilas Boas / Foto: Acervo da Escola Municipal Dr. Afonso Pena Júnior / Arte: Alessandro Abdala
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