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ZEZÉ DO CARNAVAL

A primeira mulher mestra de bateria - um misto de tradições

Popularmente conhecida como "Zezé do Carnaval”,  MARIA JOSÉ NASCIMENTO é filha de D. Eva Dos Santos Nascimento e Francisco Antônio do Nascimento, ambos carnavalescos. Zezé do Carnaval se destacou por seu talento. Antes de chegar a Sacramento, já desfilava, como ginasta acrobática, sendo ensaiada por dona Eva.

Em Sacramento se  tornou a primeira dançarina a fazer baliza acrobática na Escola Dr. Afonso Pena Júnior e, em seguida, na Escola Estadual Coronel José Afonso de Almeida, sendo acompanhada pelo grupo das primeiras balizas acrobáticas: a irmã Lúcia e a amiga Gorete. Zezé do Carnaval sempre foi uma aluna exemplar, manifestando gosto pelos estudos. Foi agraciada com diversas premiações no decorrer do curso primário. 


Através dos ensinamentos passados por sua mãe, dona Eva, ela se tornou dançarina e coreógrafa. “Mainha nos ensinava passo a passo, e o nosso par era um cabo de vassoura”. Com o tempo, Zezé do Carnaval desenvolveu diversas habilidades na arte da dança, vencendo concursos como o de Rainha e o de Samba, Forró, Gafieira e Rock, entre outros ritmos.


Ainda criança começou a disputar o carnaval como passista, sendo vencedora por diversas vezes; numa dessas ocasiões, conquistou o título de vencedora hors-concours, quando ninguém a igualou no samba e no gingado. Ainda hoje Zezé do Carnaval guarda o troféu com muito carinho. Para ser consagrada hors-concours, a pessoa precisa vencer por unanimidade durante vários anos e não pode haver empate. 

Zezé do Carnaval desfilou pelas escolas de samba XIII de Maio, Mocidade Alegre e Clube dos Operários, Escola Unidos da Estação e também pela bateria 2000, sendo consagrada pelo “samba no pé”.  Ela destaca que “ao lado dos grandes mestres, também seu irmão Marlon se mostrou brilhante, porque já aos sete anos de idade comandou o ensaio da bateria da escola XIII de Maio, na casa dos finados Sr. Belício, e Tia Rita”. Assim chamava carinhosamente a senhora que a viu crescer na cidade de Sacramento, terras de Minas Gerais.  Conclui: “Após não poder disputar o troféu de Passista/Sambista com as demais dançarinas, passei a participar da Ala Luxo e Beleza pelas Escolas de Samba Beija Flor e Tradição, conseguindo a premiação em primeiro lugar”.   


Antigamente as pessoas desciam a rua formando um cordão carnavalesco; cada um fazia a sua fantasia; parávamos nas portas das casas e entravamos em uma ou outra casa. Lembro-me da casa do Sr.Fozo e D. Corália (in memoriam) Dr. Francisco(in memoriam) e D. Daise, Dr.Amur e D. Mariléa (in memoriam) e Paulo Araújo. Os adereços eram feitos em família, representando um momento de socialização: no início era dona Eva que confeccionava as fantasias; com o passar do tempo, Zezé do Carnaval também aprendeu o oficio. “Eu mesma desenhava as fantasias e ia para São Paulo buscar material para bordar, todos os anos. A cada ano uma fantasia diferente. Assim que o passista Tiola parou de dançar, o Roni Marcos, me procurou juntamente com a mãe dele, Maria, que queria dançar com a Zezé do Carnaval, nessa ocasião Roni ganhou o primeiro troféu de passista.” 


"Fui Presidente do Clube dos Operários durante a gestão 1995 a 1996. Em 1995, em 13 dias providenciei toda a documentação do Clube, para que pudesse desfilar. Fui presidente, carnavalesca, coreógrafa e mestre de bateria, tudo ao mesmo tempo, me consagrando como a primeira mulher mestre de bateria do mundo. A minha bateria era composta em sua maior parte por crianças acima de 07 anos; abaixo de sete só mesmo o meu filho Juninho, meu contramestre. Todas as crianças eram autorizadas pelos pais e a promotora de justiça. Ensinei várias delas a tocarem; e muitas vieram a tocar depois, com outros mestres. Falavam que a minha bateria ‘era só de moleques’, mas havia gente adulta também. Então fomos afinados para a Avenida do Samba; eu levava uma fantasia de arrepiar, criada por mim. Estávamos concorrendo com a Treze de Maio, cujo mestre era o meu irmão, o Marlon. Não ganhamos o título, mas o Maestro Paulo (in memoriam) disse que nós éramos os únicos realmente afinados; tivemos uma pontuação boa. Então ganhei o troféu ‘Primeira Mulher Mestre de Bateria’. Como disse Carlos Mayer, que me levou a ser mestre: não tínhamos quem pegasse o apito; então eu fui; não adianta só apitar; tem que saber ensinar’. Todos os anos éramos convidados a dançar fora de Sacramento e em apresentações dentro da cidade mesmo. As Escolas de Samba se apresentavam em Rifaina, Conquista. O trajeto da Rifaina era longo, acompanhávamos a praia antiga. Em Conquista ficávamos no Clube e nos apresentávamos pelas ruas da cidade, ruas de pedras."


OS PASSISTAS ZEZÉ E TIOLA


“Não começamos a dançar em conjunto; era cada um para seu lado; aí o pessoal falou: ‘por que vocês não dançam juntos?’.  Formamos então um par; e continuamos a ganhar o primeiro lugar todos os anos. Fazíamos o público que estava na arquibancada, de madeira na época, levantar-se. Porque no carnaval o público em geral esperava por Zezé e Tiola; nós fazíamos a diferença. Criei o meu próprio estilo; como diz o Avelú: ‘a Zezé dança por partes; cabeça, ombros, quadril e pernas.’ É um samba diferenciado; todos sempre falam que eu ficava no ar. Me orgulho ao ouvir isso; meu irmão Marlon diz o mesmo e percebe-se um brilho a mais nos olhos dele”. Zezé e Tiola dançam muito bem; conquistaram fãs; inspiraram gerações de passistas; fizeram história. Zezé ainda recorda outros passistas com quem dançou: “Hélio Gabriel (Helião), irmão do Tiola e tio do Roni; Anderson (Macalé) e Rafael Bernardes (in memoriam). 


DANÇAR NAS PONTAS DOS PÉS


“Quando o prefeito Wesley de Santi – ‘Baguá’ veio aqui em casa em 2020 me entregar o ‘Troféu 200 - Eu Faço Parte Dessa História’, ele falou para o secretário de governo Carlos Rodrigues- ‘Bananal’ que eu dançava muito bem e ficava no ar.  Em 2020, não tive sorte com a bateria; estava me recuperando de uma cirurgia, por isto não estava em forma, mas dancei um pouquinho”.


DESFILES SACRAMENTO


"Antes me lembro que havia ruas de terra e outras calçadas com pedras de paralelepípedo; pelo menos me lembro que, quando criança, no nosso Bairro e em vários outros pontos da cidade ainda eram de terra. Hoje a competição começa na esquina da Farmácia do Herculano; mas, antes, os pontos já eram contados a partir da esquina da Boa Compra e Terra Roxa; lá onde antes havia um barracão de marcenaria do Sr. Leonardo Kitney, lugar em que os meninos abrigados na Casa Lar aprendiam a profissão todos, aliás, se tornaram ótimos marceneiros. Como disse, não existia asfalto; o calçamento era de pedras. Mas nunca fiquei engastalhada entre uma e outra, porque danço nas pontas dos pés. Muitas dançarinas quebravam o salto do sapato e continuavam o desfile descalças; outras iam de sapatilhas. Mas o salto alto é elegante e sempre me saí bem, com saltos de 10 a 12 cm. Me lembro bem que o palanque ficava no espaço estendido entre o prédio atual do Banco Itaú e o posto de gasolina, às costas da Igreja. Às vezes, no exato momento em que o desfile passava, percebia-se um bueiro que ficava aberto; uma tampa de ferro de cerca de 20 cm. Muita gente se machucava; noutros anos, porém, estava tampado e seguíamos. Também desfilei na Passarela do Samba quando já era com asfalto; aí sim, parecia um tapete; eu, porém, sempre soube onde pisava; as pedras reconheciam meus pés, que as pisavam desde quando eu era menina; além disso foi meu Painho o realizador do calçamento." 


TÍTULOS “PRIMEIRA MULHER"


-Dançarina hors-concours em Sacramento-MG “primeira mulher” pela Prefeitura Municipal de Sacramento                                                             
-Mestre de Bateria em 1995 pelo Clube dos Operários 
-Em 1984, primeira mulher Rainha do Clube dos Operários.
-Em 1985- primeira mulher Rainha da piscina Gruta dos Palhares.
-Primeira mulher estagiária na delegacia de Sacramento MG com o grande mestre Dr. Cézar Felipe Colombari; auxiliar nos plantões em Araxá com o ex delegado Heli -Grilo, hoje deputado estadual.  “Dr. Felipe me assessora até hoje; tenho muito orgulho e admiração por ele; para mim ele é fonte de inspiração”.
-Em 2019 - primeira mulher cover “Elvis Presley” do mundo
-Primeira mulher condecorada no futebol feminino pela Prefeitura Municipal de Sacramento
-Primeira Baliza Acrobática do Afonso Pena
-Primeira Baliza Acrobática do Coronel 
-Em 2017- primeira mulher homenageada pelos Bombeiros Civis de Sacramento- MG

 

TÍTULOS PARTICIPANDO COM OUTROS COMPONENTES


-Em 2012, personalidade que faz história – prefeito Wesley de Santi de Melo 
-Personalidade da memória do carnaval – especial carnaval 2016 –Sandra Arts
-Em 2018, personalidade negra – prefeito Wesley de Santi de Melo 
-Em 2020, Sacramento 200 anos – eu faço parte dessa história – prefeito Wesley de Santi de Melo.

 

Fonte

Texto: Eliana Garcia Vilas Boas 

A Associação Companhia Movimento Cênico é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, fundada em 29 de janeiro de 2011

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