Projetos
Hotel do Comércio
O imóvel desfruta de uma localização central em Sacramento, em uma região notável pela presença de outras construções que remontam ao final do século XIX e à primeira metade do século XX, caracterizadas predominantemente por seu estilo arquitetônico eclético. Estrategicamente posicionado na movimentada Avenida Visconde do Rio Branco, área de concentração de muitos dos principais pontos comerciais da cidade, o edifício compartilha traços arquitetônicos semelhantes com outras construções da região.
No início do século XX, durante um período de crescimento na produção agrícola, especialmente na lavoura de café, e com o aumento do transporte de passageiros e mercadorias pela estrada de ferro, surgiu a oportunidade de construir um hotel na Rua Visconde do Rio Branco, no centro da cidade. Esse hotel, conhecido como Hotel Central, foi fundado e administrado por Dona Cândida Vieira Goulart por mais de uma década.
Por volta de 1912, o edifício era um grande casarão com quintal espaçoso nos fundos, onde os hóspedes praticavam tiro ao alvo. Os visitantes incluíam viajantes em comitivas de gado, tropeiros e passageiros em trânsito pela Estrada de Ferro Mogiana. Em frente ao hotel, na área onde hoje está situado o bar e restaurante Cinelândia, havia um local para abrigar burros e mulas.
Em 1925, o hotel foi adquirido por Pedro Sinibalde, que o renomeou como Hotel do Comércio. Três anos depois, em 1928, o antigo edifício foi demolido e substituído por uma estrutura mais moderna para a época. A construção foi conduzida por Ângelo Crema, João e Ferrúcio Bonatti, com a participação de pedreiros, incluindo Ettore Cerchi, recém-chegado da Itália e irmão do futuro proprietário, Ítalo Cerchi.
As novas instalações do hotel foram inauguradas em 11 de novembro de 1929, coincidindo com as bodas de prata dos proprietários, Pedro Sinibalde e Regina Scalon Sinibaldi, e o casamento de sua filha, Maria, com Ítalo Cerchi.
Em 1935, Pedro vendeu o hotel para seu genro Ítalo Cerchi, que o manteve durante seis décadas. Ítalo realizou melhorias no imóvel, como a expansão das instalações, a construção de novos quartos, uma lavanderia e um estacionamento. Após sua morte, o hotel continua sendo administrado por familiares.
O imóvel exibe um estilo arquitetônico eclético com detalhes ornamentados na fachada, incluindo um frontão e cimalha.
A fachada possui um frontão retilíneo, com detalhes altos e baixos, com um arco apenas na face que dá para a Avenida Visconde do Rio Branco. Os detalhes ornamentais que decoram a fachada ainda estão preservados.
O interior do imóvel preserva elementos originais, como pisos, portas, janelas, forros e louças. A construção utiliza fundação de pedra, paredes de tijolos cerâmicos, com parte em alvenaria estrutural e parte em estrutura de concreto.
Com sua longa tradição e a passagem de tantos que por ele transitaram no decorrer de um século, o Hotel do Comércio não é apenas um edifício, mas um capítulo vivo da história de Sacramento. Rodeado por outras edificações igualmente históricas e significativas para a memória da cidade, ele se destaca como um ícone da identidade de Sacramento. Este imóvel é um testemunho da resiliência e da importância de se preservar o patrimônio que moldou a comunidade e continuará a moldar o seu futuro.
Este texto faz parte do Projeto 'Arquitetura e Memória: Inventariando o Patrimônio Edificado de Sacramento', que tem como objetivo divulgar a história das edificações de valor cultural e arquitetônico em Sacramento.
Referências:
ABDALA, Alessandro; ALMEIDA, Fernanda Cerchi Bonatti; BOAS, Eliana Garcia Vilas; BORGES, Adriana Gobbo; SILVA, Flânder Gustavo Alves; BIANCO, Luiza Coelho Del; MARQUES, Pablo Henrique de Almeida. Inventário do Patrimônio Cultural de Sacramento. Sacramento, 2021. Documento disponível no Arquivo Público Municipal de Sacramento.
BERNARDES, R. R. Inventário do Patrimônio Arquitetônico de Sacramento. Franca, 2002, pg. 176/ cd rom. Tese de graduação em Arquitetura e Urbanismo. UNIFRAN: Franca, SP
CERCHI, C. A. Hotel do Comércio. Revista Destaque In, Sacramento, ano 8, n. 46, p. 20-23, jul/ago 2002.
