Ao longo dos anos, a Capela de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento passou por diversas transformações que moldaram sua arquitetura e definiram sua decoração. Fundada em 1819 pelo Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, a fundação da cidade se deu ao redor de modesto oratório.
Posteriormente, esse oratório evoluiu até tornar-se uma "capela curada", em 1820; infelizmente, porém, os registros sobre essa fase inicial do templo são escassos. A capela sobreviveu até por volta de 1857, quando a Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento foi estabelecida, levando à construção de uma nova igreja.
Nos arredores da capela, tal como no povoado do Desemboque, existia um cemitério, refletindo as práticas religiosas e funerárias da época. Este cemitério foi utilizado até 1876, quando um novo local de sepultamento foi inaugurado no final da Rua 15 de Novembro, hoje conhecida como Major Lima.
A arquitetura da antiga igreja era modesta, a ponto de o vereador Carlos Nonato de Oliveira França, em 1873, solicitar recursos para ornamentar a igreja, descrevendo-a como "nua", ou seja, desprovida de ornamentos à altura de sua dignidade, tal como foi relatado pelo historiador Amir Salomão Jacob em seu livro "A Matriz da Vila".
A história da Capela de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento sugere que, originalmente, ela seguia o estilo colonial típico das vilas mineiras do século XVIII, especialmente na época em que as atividades de mineração eram predominantes.
No início do século XX, a igreja foi objeto de várias intervenções arquitetônicas. Sabemos que a maior parte dessas intervenções foi concentrada na parte interna do edifício, embora não existam documentos fotográficos que ilustrem a aparência desse interior antes e depois dessas alterações.
Em 1902, um altar em mármore Carrara foi adquirido, permanecendo em uso até 1972. Em uma das reformas de 1908, a fachada da igreja foi modificada, incluindo a construção de uma torre à direita, onde foi instalado um relógio.
Em 1920, foi realizada outra mudança com a construção de uma segunda torre, desta vez à esquerda da igreja. Para essa empreitada, foram contratados pedreiros vindos do estado de São Paulo, dentre os quais se destacam Jácomo Pavanelli, que posteriormente desempenhou um papel significativo em outras construções da cidade, como o edifício da Escola Dr. Afonso Pena Jr. e o antigo prédio da cadeia, juntamente com Ettore Cremoni, Antonio Lopes e Luiz Casagrande. Os tijolos utilizados na construção da torre foram fabricados e doados por Henrique Colenghi, dono de uma olaria próxima à cidade.
Em 1946, o pintor Paul Kohl, originário do Paraná, foi contratado para decorar o interior da Matriz, criando vários painéis retratando passagens bíblicas. Também houve restauração de altares, construção do coro, substituição de pisos e instalação de vitrais. Oito colunas romanas foram erguidas, e a igreja recebeu iluminação elétrica, além de dois confessionários de madeira.
Em 1958, a igreja passou por outra reforma, sendo estendida para trás, na direção da Avenida Visconde do Rio Branco, onde antes havia um jardim; ainda lateralmente ocorreu a construção de duas sacristias. O engenheiro responsável foi Nicolau Baldassari, de Uberaba, e o projeto foi elaborado por Walter Fonseca. Ferrúcio Bonatti foi o construtor licenciado, com os pedreiros Valteno Bertolucci, José Espanhol e Alberto Tassini. O número de colunas romanas aumentou de 8 para 16 durante essa reforma, que também incluiu a remoção das pinturas bíblicas.
Em 1972, uma reforma substancial foi conduzida sob a supervisão do engenheiro Antonio Celso Ribeiro, embora não tenha havido um projeto final estabelecido. A modificação mais significativa envolveu a remoção das colunas romanas, uma decisão que gerou controvérsia, uma vez que essas colunas eram apreciadas pela população. Além disso, as escadas da entrada principal foram reconfiguradas para o formato atual, e os vitrais foram substituídos. Com cada reforma ao longo do tempo, a igreja gradualmente se distanciou de sua forma original, resultando na perda progressiva de sua identidade.
Após a reforma de 1972, a igreja passou ainda por outras reformas, que renovaram o seu interior, mudando praticamente toda a sua decoração e ornamentação. Uma das mudanças mais significativas foi a retirada das pedras "asa de barata" que revestiam a parede do altar.
Hoje, a Basílica exibe uma mistura de estilos, com uma fachada eclética que reflete a história de mudanças ocorridas ao longo dos anos e a transformação contínua da igreja. Em 2014, a então Igreja Matriz foi elevada à condição de Basílica Menor do Santíssimo Sacramento, representando um marco importante na região, apesar das mudanças que alteraram sua identidade original.
Este texto faz parte do Projeto 'Arquitetura e Memória: Inventariando o Patrimônio Edificado de Sacramento', que tem como objetivo divulgar a história das edificações de valor cultural e arquitetônico em Sacramento.
Referências:
JACÓB, Amir Salomão. A Matriz da Vila. Uberaba: Gráfica Rios, 1998.
ABDALA, Alessandro; ALMEIDA, Fernanda Cerchi Bonatti; BOAS, Eliana Garcia Vilas; BORGES, Adriana Gobbo; SILVA, Flânder Gustavo Alves; BIANCO, Luiza Coelho Del; MARQUES, Pablo Henrique de Almeida. Inventário do Patrimônio Cultural de Sacramento. Sacramento, 2021. Documento disponível no Arquivo Público Municipal de Sacramento.
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