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Capela de Nossa Senhora do Rosário – Desemboque

Essa capela foi construída a fim de sediar a devoção religiosa dos numerosos escravos do arraial do Desemboque, empregados não apenas nas atividades mineradoras, mas, também, na lavoura, criação e transporte do gado, nas construções e nos afazeres domésticos.

O comportamento social da época, próprio de uma sociedade escravocrata, não admitia comunhão de culto entre homens livres e os trabalhadores cativos; estes últimos, catequizados à força pelos colonizadores, tinham que adaptar-se à sua nova condição religiosa, dando início ao famoso processo de sincretismo tão característico do Brasil até os dias de hoje.

Assim, as divindades africanas pagãs, reflexos de uma acentuada crença panteísta estendida a todo aquele continente, tiveram seus nomes e atributos adaptados ao catolicismo de origem ibérica tal como era ensinado pelos missionários presentes nos centros urbanos e nos campos.

Nesse processo de adaptação, tão interessante, foi fundamental o papel desempenhado pelas confrarias, as irmandades dos homens pretos, que escolhiam, muitas vezes de maneira até inconsciente, o título do santo católico favorito que deveria ser o destinado a servir-lhes de patrocinador ou orago. Desse modo coube a Nossa Senhora do Rosário, possivelmente associada a alguma poderosa e influente divindade de origem africana, concentrar em si o impulso religioso da população escravizada, tornando-se objeto de especial devoção.

Na capela do Desemboque a estrutura da construção é bastante simples, sendo formada por nave, capela mor e sacristia lateral única; madeira e vedação em adobe foram empregadas na construção das paredes; a cobertura é também de duas águas; e a fachada apresenta, além da óbvia porta, duas janelas com parapeito entalado, ou seja, não aparente, sem destacar-se do corpo da fachada; também não aparece, em todo o ambiente, nenhum tipo de forro.

Quanto à ornamentação, é bastante sóbria, estando resumida ao retábulo do altar mor e ao púlpito para a pregação; rendilhados em madeira, colunas, nichos pintados em forte tom de azul, e volutas simetricamente repartidas formam decoração à parte do próprio retábulo; reformas possivelmente realizadas ainda antes do término do século XVIII e mesmo outras, posteriores, mudaram um pouco a decoração, sobretudo mediante o acréscimo de nichos nas paredes laterais, sem mudar, entretanto, o aspecto do conjunto.

Além de serem os dois únicos remanescentes dos tempos da mineração, visto que infelizmente quase não houve, até uma data recente, o cuidado de preservação da arquitetura do antigo arraial, a igreja carrega em si três séculos inteiros de história, o que contribui, sem dúvida, para ressaltar ainda mais a sua importância.

Este texto faz parte do Projeto 'Arquitetura e Memória: Inventariando o Patrimônio Edificado de Sacramento', que tem como objetivo divulgar a história das edificações de valor cultural e arquitetônico em Sacramento.

Referência:
Guia dos Bens Tombados Volume 1, acessado em 04 de abril de 2019: http://www.iepha.mg.gov.br/publicacoes/guia-dos-be...Ficha de Ficha de Inventário do Município de Sacramento (2004).

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